Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/136

— Nem pensas nisso. Aquilo é o castelo do diabo, que anda a boiar por cima do mar. O que devemos fazer é pedir ao padre cura para esconjurá-lo com exorcismos, a ver se foge para sempre destes mares.

— Mas dizem que lá mora uma moça que é um assombro de formosura e que sabe cantar como uma sereia…

— Como uma sereia! — interrompeu o velho a rir-se. — Forte asno que tu és, Miguel…! Pois se ela é mesmo sereia.

“E sabes tu o que é uma sereia…? É o demônio dos mares, a pior tentação que pode haver neste mundo, mas ninguém há que a tenha visto senão de longe. Qual é o que se pode gabar de a ter encarado de perto, que lhe não tenha caído nas garras, ou pelo menos não tenha ficado doido varrido…?”

— Eu que aqui estou, mestre Tinoco — acudiu um lépido mancebo de fisionomia cheia de vivacidade e inteligência. — Eu, que aqui estou, já a vi com estes olhos e ouvi cantar com estes ouvidos.

— Tu, Maneca? — respondeu o Tinoco, abanando a cabeça com incredulidade. — Ora, sai-te daí; se tivesses posto os olhos nela um só instante não estavas aqui assim tão fresco.