Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/205

a muito custo me concedeu; era este o único meio de satisfazer a minha fantasia. Bem conhecia a distância e os perigos que rodeiam estes penedos; era aventura por demais arriscada ainda para os mais valentes barqueiros. Minha vontade, porém, era indomável e não recuou diante de dificuldade nem perigo algum. Fiz repetidas tentativas bordejando a ilha, e cada vez me aproximando mais dos terríveis cachopos, e me familiarizando com seu aspecto ameaçador, até que um dia, sem eu saber como, levado brandamente e sem esforço pelas ondas, meu barco entranhou-se por este canal e achei-me no meio deste tranquilo golfozinho.

“Não achei aqui, é verdade, todas as delícias e magnificências que eu havia fantasiado, não encontrei minha mãe, nem seus palácios encantados, mas deparei nesta ilha uma deliciosa vivenda, um retiro sossegado defendido pelo mar, e inacessível aos homens, abrigo seguro que me separa dos perigos dessa terra que me foi vedada por minha mãe, e em que jamais deveria ter aportado. Aqui eu poderia viver tranquila e feliz, se não fosse o dom fatal da beleza que o céu me concedeu, e que devia amargurar-me a existência enchendo-a de angústias e dissabores.”