que mudaste tão de súbito…? Não sei ainda o que pense de ti… Dize-me, por Deus…! Tem-me ódio ou amor…?
A esta brusca e enérgica interpelação, Regina, caindo em si, saiu do estado de extraordinária exaltação que a tinham arrastado terríveis recordações. A infeliz também sentia dentro da alma um caos agitado e tormentoso, como as ondas convulsionadas, que se despedaçavam em derredor de sua ilha. Até aquele ponto de sua narração pouco ou nada lhe fora mister ocultar, nem mesmo disfarçar. Havia falado lisamente a verdade com a franqueza e efusão de uma alma apaixonada, que pela primeira vez em sua vida derrama no seio de outra os seus mais íntimos sentimentos. No arrastamento da paixão, no abandono de suas confidências esquecera seu tremendo juramento, e nem de leve se lembrava que em breve devia derramar sobre o túmulo de seu desventurado esposo o sangue desse lindo e idolatrado mancebo, que agora ouvia de seus lábios as mais íntimas e ternas revelações. Essa ideia sinistra, que por algum tempo andara arredada de seu espírito, surgindo-lhe de súbito à lembrança pela ordem natural dos fatos que narrava, foi essa ideia que fez Regina erguer-se hórrida e fremente de cólera, bem como o baixel que, singrando as velas soltas por mares bonançosos, esbarra de súbito em oculto