Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/308

tornou a retirar-se. Daí a momentos tornou a aparecer trazendo-lhe para alimento o que! Santo Deus! o braço de seu camarada esquartejado, ainda quente e fumegante! A tal vista Gaspar soltou um grito de horror, voltou bruscamente o rosto, e o escondeu entre as mãos. A mulher parece que compreendeu sua repugnância, e foi lhe buscar frutos; estes eram sãos e saborosos, colhidos a pouco nos vales próximos aquela espelunca infernal. Gaspar não tinha fome, mas sentia necessidade de alimentar-se; comeu-os, e ao comê-los não pode deixar de exclamar: “Ah! frutas do paraíso, quanto sois deliciosas! mas ai de mim, que sou condenado a comer-vos no inferno!” A índia retirou-se, e não voltou mais essa noite.

Gaspar deitou-se na pele e refletiu amargamente sobre seu cruel destino. Já não havia para ele dúvida, que aquela mulher, que pelo ascendente, que exercia sobre os outros parecia ser filha, irmã ou talvez mulher do cacique ou chefe daquela gente, se tomara de amores por ele, e a esse fato devia ele o ter-se-lhe poupado a vida. Mas que vida, meu Deus! e por que preço!

— Descer vivo a escuridão dos túmulos, — pensava Gaspar, — para viver em perpétuas trevas e completa solidão no meio desta corja de monstros repulsivos, que mais parecem um bando de tatus