estenderam-se no chão pelos cantos da caverna empilhados uns sobre os outros e começaram a roncar como porcos em ceva. Com o surgir do sol começava para eles a noite; tinham ceado; era bom, que agora dormissem. Só dois vultos ficaram em pé de vigia a Gaspar, e para se não deixarem furtar do sono, roíam ossos, brincavam e tagarelavam. Meia hora depois apareceu a salvática[1] amante de Gaspar; a um aceno dela os dois vigias se retiraram e sumiram-se nas trevas da espelunca.
Os amores de Kora a heroína, da gentil Paraguaçu, de Atalá e da meiga Celuta, e de todas essas formosas filhas das florestas nada tem de comparável com a paixão, que o jovem paulista mesmo do meio da mais espessa escuridão e sem se fadarem, soube inspirar à aquela misteriosa princesa das trevas. Somente não se podia dizer se era bela ou não; porém em compensação, podia-se dizer com literal exatidão e não por hipérbole como é manha de todos os poetas e romancistas, que ela era alva como jaspe, como neve, ou como casca de ovo.
Romeu ao avistar Julieta no topo da escada furtiva do palácio dos Montecchi não sentiu tão violento abalo, seu coração não palpitou com tanta ânsia, como o de Gaspar ao ver encaminhar-se para ele no meio das sombras da caverna, anhelante
- ↑ Seria acaso "selvática"?