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deserto profundo, incomensurável, mil novos trabalhos e obstáculos a superar, mil novas fadigas e azares a afrontar! Mas antes isso, do que ser condenado a viver nas trevas entre aqueles monstros, último rebutalho da natureza humana! Antes morrer vendo o céu, a luz, a natureza, do que viver sepultado na perpétua escuridão daquelas horríveis espeluncas.

Não é nosso propósito, e nem poderíamos referir todos os riscos, fadigas, privações e trabalhos, por que teve de passar o nosso herói atravessando sozinho e sem outro recurso mais que a sua audácia, astúcia e robustez, aqueles vastíssimos e inóspitos sertões até chegar à sua pátria. O certo é que o intrépido aventureiro chegou são e salvo a S. Paulo de Piratininga, onde contou a seus patrícios pasmos e boquiabertos as estranhas aventuras, que acabamos de relatar. Não podemos garantir a veracidade delas, mas asseguramos que não é invenção nossa, pois ouvimos essa tradição de pessoa mui sensata e autorizada, e que tinha boas razões para dar-lhe inteiro crédito.

Fundados na relação de Gaspar, e dirigindo-se por suas indicações, muitas outras bandeiras de paulistas partiram em diversos tempos para aquelas remotas regiões em demanda daquele novo jardim das Hespérides. Exploraram muitos países