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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

já cantado pelo «nosso mavioso Cunha Torres»; — mas porque do terraço da Bica, sem esforço, sentado no banco, avistava n’uma largueza terras suas:

— Olhe V. Ex. a... Para além d’aquelle souto, até á chã e ao comoro onde está a casota amarella e por traz o pinhal, tudo é meu... O pinhal ainda é meu... Acolá, do renque d’álamos para deante, depois do lameiro, é tambem meu... Alli, do lado da ermida, pertence ao Monte-Agra... Mas, mais para lá, passado o azinhal, pelo monte acima, é tudo meu!

O livido dedo, o braço escanifrado na manga de casimira preta, cresciam por sobre o valle. — Além os pastos... Adeante os centeios... Depois o bravio... — Tudo d’elle! E, por traz da magra figura alquebrada, de chapéo enterrado na nuca, o abafo de seda subido até ás pallidas orelhas quasi despegadas, D. Anna, esvelta, clara e sã como um marmore, com um sorriso esquecido nos labios gulosos, o formoso peito mais cheio, acompanhava a enumeração copiosa, affincava a luneta sobre os pastos, e os pinhaes, e os centeios, sentindo já — tudo d’ella!

— E agora acolá, detraz do olival, concluiu Sanches Lucena com respeito, é sitio seu, Sr. Gonçalo Mendes Ramires...

— Meu?...

— De V. Ex. a, quero dizer, ligado á casa de V. Ex. a. Pois não reconhece?... Além, por traz do