A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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a rampa mal empedrada. Gonçalo virou para o Barrôlo a face chammejante de furôr:

— Isto é uma provocação! Se este descarado d’este Cavalleiro passa outra vez na maldita pileca, por debaixo das janellas, apanha com um balde d’agua suja!...

Barrôlo, inquieto, espreitou:

— Naturalmente vae para casa das Louzadas... Anda agora muito intimo das Louzadas... Sempre por aqui o vejo... E é para as Louzadas.

— Que seja para o inferno! Pois, em toda a cidade, não ha outro caminho para casa das Louzadas? Duas vezes em meia hora! Grande insolente! Tem uma chapada d’agua de sabão, pela grenha e pela bigodeira, tão certo como eu ser Ramires, filho de meu pae Ramires!

Barrôlo beliscava a pelle do pescoço, constrangido ante aquelles rancores ruidosos que desmanchavam o seu socego. Já, por imposição de Gonçalo, rompera desconsoladamente com o Cavalleiro. E agora antevia sempre uma bulha, um escandalo que o indisporia com os amigos do Cavalleiro, lhe vedaria o Club e as doçuras da Arcada, lhe tornaria Oliveira mais enfadonha que a sua quinta da Ribeirinhaou da Murtosa, solidões detestadas. Não se conteve, arriscou o costumado reparo: