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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

espelho o penteado. E direita como n’uma arena, com a temeridade simples e risonha dos antigos Ramires, esperou a arremettida das manas terriveis.



No outro domingo, depois do almoço, Gonçalo acompanhou a irmã a casa da tia Arminda Villegas, que na vespera, ao tomar (como costumava todos os sabbados) o seu banho aos pés, se escaldára e recolhera á cama, apavorada, reclamando uma junta dos cinco cirurgiões d’Oliveira. Depois acabou o charuto sob as acacias do Terreiro da Louça, pensando na sua Novella abandonada na Torre durante essas semanas, e no lance famoso do Capitulo II que o tentava e que o assustava — o encontro de Lourenço Ramires com Lopo de Bayão, o Bastardo, no valle fatal de Cantapedra. E recolhia aos Cunhaes (porque promettera ao Barrôlo uma trotada a cavallo, até ao Pinhal de Estevinha, para aproveitar a doçura do domingo ennevoado) quando, na rua das Vellas, avistou o tabellião Guedes, que sahia da confeitaria das Mathildes com um grosso embrulho de pasteis. Ligeiramente, o Fidalgo atravessou logo a rua — emquanto o Guedes, da borda do passeio, pesado e barrigudo, na ponta dos botins miudinhos gaspeados de verniz, descobria, n’uma cortezia immensa, a calva, emplumada