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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

da chuva d’aquelles tres dias, uma frescura descia do ceu amaciado e lavado sobre os campos mais verdes. E como ainda restava meia hora farta antes de jantar, o Fidalgo agarrou o chapeu, e mesmo na sua velha quinzena de trabalho, com uma bengalinha de canna, desceu á estrada, tomou pelo caminho que s’estreita entre o muro da Torre e as terras de centeio onde assentavam no seculo XII as barbacans da Honra de Santa Ireneia.

Pela silenciosa vereda, ainda humida, Gonçalo pensava nos seus avós formidaveis. Como elles resurgiam, na sua Novella, solidos e resoantes! E realmente uma comprehensão tão segura d’aquellas almas Affonsinas mostrava que a sua alma conservava o mesmo quilate e sahira do mesmo rico bloco d’ouro. Porque um coração molle, ou degenerado, não saberia narrar corações tão fortes, d’eras tão fortes: — e nunca o bom Manoel Duarte ou o Barrôlo excellente entenderiam, bastante para lhes reconstruir os altos espiritos, Martim de Freitas ou Affonso de Albuquerque... N’esta fina verdade desejaria elle que os Criticos insistissem ao estudar depois a Torre de D. Ramires — pois que o Castanheiro lhe assegurára artigos consideraveis nas Novidadese na Manhã. Sim! eis o que convinha marcar com relevo (e elle o lembraria ao Castanheiro!) — que os Ricos Homens de Santa-Ireneia reviviam