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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

lhe tremera o beiço: — «Ao cabo de tantos annos, Gonçalo, seria mais caridoso não alludir a culpas, lembrar somente a antiga amizade, que, pelo menos em mim, se conservou a mesma, leal e séria.» A esta sensibilisada invocação, elle volvera, com doçura, com indulgencia: — «Se o meu antigo amigo André recorda a nossa antiga amizade, eu não posso negar que em mim tambem ella nunca inteiramente se apagou...» Ambos balbuciaram ainda alguns confusos lamentos sobre os desaccordos da vida. E quasi insensivelmente se trataram por tu! Elle contou ao Cavalleiro a torpe ousadia do Casco. E o Cavalleiro, indignado como amigo, mais como Auctoridade, telegraphára logo ao Gouveia um mandado forte para inutilisar o valentão dos Bravaes... Depois conversaram da morte do Sanches Lucena, que impressionava o Districto. Ambos louvaram a belleza da viuva, os seus duzentos contos. O Cavalleiro recordou a manhã, na Feitosa, em que entrando pela porta pequena do jardim, a surprehendera, dentro d’um caramanchão de rosas, a apertar a liga. Uma perna divina! Ambos se recusaram, rindo, a casar com a D. Anna, apezar dos duzentos contos e da divina perna... — Já entre elles se restabelecera a antiga familiaridade de Coimbra. Era «tu Gonçalo, tu André, oh menino, oh filho!»

E fôra André, naturalmente, que alludira á desapparição