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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

vasto chapeu braguez atirado para a nuca, desafogando a honesta face barbuda, vermelha de saude e sol:

— Eu, por farda, queria dizer libré... Libré de lacaio.

— Ora essa!?

E o outro mais retumbante:

— Pois o que vaes tu ser, homem, senão um sujeito ás ordens do S. Fulgencio, do horrendo careca? Não lhe serves o chá, quando elle te mandar; mas, quando elle te mandar votar, votas! Alli, direitinho, ás ordens! «Oh Ramires, vote lá!» E Ramires, zás, vota... É de escudeiro, homem, é de escudeiro de libré...

Gonçalo sacudiu os hombros, impaciente:

— Tu és uma creatura das selvas, lacustre, quasi prehistorica... Não entendes nada das realidades sociaes!... Na sociedade não ha principios absolutos!...

Mas o Titó, imperturbavel:

— E esse Cavalleiro? Tambem já é rapaz de talento? Tambem já governa bem o Districto?

Então Gonçalo protestou, picado, com uma roseta forte na face. E quando negára elle ao André talento ou geito de governar? Nunca! Só rira, gracejando, da sua pompa, da bigodeira lustrosa... E de resto, o serviço do Paiz exigia que por vezes se alliassem homens que nem partilhavam os mesmos gostos, nem procuravam os mesmos interesses!