soltou n’um galope impaciente que o branqueou de poeira.
Só retomou um passo indifferente, ao acercar da linha do Caminho de Ferro, onde um carro de lenha e dois homens esperavam deante da cancella, que se fechára para a lenta passagem d’um trem carregado de pipas. Um d’esses homens, d’alforge aos hombros, era o Mendigo — o vistoso Mendigo que passeava por aquellas aldeias a rendosa magestade das suas barbaças de Deus fluvial. Erguendo gravemente o chapéo de vastas abas, desejou ao Fidalgo a companhia de Nosso Senhor.
— Então hoje a ganhar a rica vida por Craquêde?...
— Cá me arrasto ás vezes para a passagem do comboio d’Oliveira, meu Fidalgo. Os passageiros gostam de me vêr de pé no talude, correm sempre ás janellas...
Gonçalo, rindo, recordou que o encontro d’aquelle ancião precedia sempre um encontro seu com a bella D. Anna. — «Quem sabe? pensou. É talvez o Destino! Os antigos pintavam assim o Destino, com longas barbas e longas guedelhas, e o alforge ás costas contendo as sortes humanas...» — E com effeito ao cabo do pinheiral silencioso, que estiradas resteas de sol docemente douravam — avistou a caleche da