328
A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

E nem está á hora aprazada, para fazer as honras, como devia...

Elle, rindo, com o seu desembaraço airoso, negou esse dever! Aquella casa não era sua, mas do Bom Deus! Ao Bom Deus competia «fazer as honras» — acolher tão doces romeiras com algum milagre amavel...

— E então, gostaram? V. Ex. a, Snr. aD. Anna, gostou das ruinas?... Muito interessantes, não é verdade?

Através do véo, com uma lentidão que a espessa renda negra tornava mais grave, ella murmurou:

— Eu já conhecia... Vim cá uma tarde, com o pobre Sanches que Deus haja.

— Ah...

Áquella evocação do pobre morto, Gonçalo sumira todo o sorriso, com polida tristeza. Mas D. Maria Mendonça acudio, atirando um dos seus magros gestos, como para arredar a sombra importuna:

— Ai! não imagina o que gostei, primo! É d’appetite todo o claustro... Logo aquella espada enferrujada, chumbada por cima do tumulo... Não ha nada que impressione como estas cousas antigas... Oh primo, e pensar que estão alli antepassados nossos!

O sorriso de Gonçalo de novo lampejou, alegre e acolhedor, como sempre que D. Maria se empurrava com desesperada gula para dentro da Casa de Ramires.