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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

E então tambem o tomou a curiosidade de visitar esse claustro onde não entrára desde pequeno — quando ainda a Torre conservava as suas carruagens montadas e a romantica Miss Rhodes escolhia sempre o passeio de Craquêde para as tardes pensativas d’outomno. Puxou a egoa, transpoz o portal, atravessou o espaço descoberto que fôra a nave — atulhado de caliça, de cacos, de pedras despegadas da abobada e afogadas nas hervas bravas. E pela brecha d’um muro a que ainda se amparava um pedaço d’altar — penetrou na silenciosa crasta Affonsina. Só d’ella restam duas arcadas em angulo, atarracadas sobre rudes pilares, lageadas de poderosas lages poidas que n’essa manhã o sachristão cuidadosamente varrera. E contra o muro, onde rijas nervuras desenham outros arcos, avultam os sete immensos tumulos dos antiquissimos Ramires, denegridos, lisos, sem um lavor, como toscas arcas de granito, alguns pesadamente encravados no lagedo, outros pousando sobre bolas que os seculos lascaram. Gonçalo seguia um carreiro de tijolo, rente aos arcos, recordando quando elle outr’ora e Gracinha pulavam ruidosamente por sobre essas campas, em quanto no pateo do claustro, entre as pilastras tombadas e a verdura das ruinas, a boa Miss Rhodes agachada procurava florinhas silvestres. Na abobada, sobre o