A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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potencia em beber todo um pipo e em comer todo um anho, e sobretudo pela independencia, uma suprema independencia, que, apoiada ao bengalão terrifico e com as suas oito moedas dentro da algibeira, nada temia e nada desejava nem da Terra nem do Céo. — Logo debruçado na varanda, gritou:

— Oh Titó, sóbe!... Sóbe emquanto eu me visto. Tomas um calice de genebra... Vamos depois passear até aos Bravaes...

Sentado no rebordo do tanque redondo e sem agua que ornava o pateo, erguendo para o casarão a sua franca e larga face requeimada, cheia de barba ruiva, o Titó movia lentamente como um leque um velho chapéo de palha:

— Não posso... Ouve lá! Tu queres hoje á noite cear no Gago, commigo e com o João Gouveia? Vae tambem o Videirinha e o violão. Temos uma tainha assada, uma famosa. E enorme, que eu comprei esta manhã a uma mulher da Costa por cinco tostões. Assada pelo Gago!... Entendido, hein? O Gago abre pipa nova de vinho, do Abbade de Chandim. Eu conheço o vinho. É d’aqui, da ponta fina.

E Titó, com dous dedos, delicadamente, sacudio a ponta molle da orelha. Mas Gonçalo, repuxando as pantalonas, hesitava:

— Homem, eu ando com o estomago arrazado... E desde hontem á noite uma dôr nos rins, ou no