398
A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

romance que desabrochára. Mas não ousou! Era um angustiado acanhamento, como a vergonha de cubiçar assim todos os restos do pobre Lucena — o Circulo e a viuva.

Então, conversando do Alemtejo e do mano João (que contára muitas antigualhas massadoras sobre a genealogia dos Ramires), desceram da Portella á Torre, com tenção de estirar o passeio até aos Bravaes. Mas, na Torre, Gonçalo desejou avisar a Rosa dos dous convivas inesperados, senhores de tão poderoso garfo. Entraram pela porta do pomar onde um fio lento d’agoa s’atardava nos regueiros. Aos brados galhofeiros do Fidalgo a Rosa accudio, limpando as mãos ao avental. O que! dous convidados! Mesmo quatro, e mais valentes, que graças a Deus nosso Senhor o jantarinho sobrava! Ainda de tarde comprára a uma mulher da Costa um cesto de sardinhas, graudas e gordas que regalavam!... O Titó reclamou logo uma fritada tremenda de sardinha e ovos. E os dois amigos atravessavam o pateo — quando Gonçalo reparou no Bento, escarranchado no banco da latada, deante d’uma tigella, e areando com enthusiasmo um castão de prata lavrada, que emergia de dentro d’uma toalha enrolada como d’uma bainha.

— Que castão é esse, Bento? assim embrulhado?

O Bento lentamente saccou da toalha torcida