A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
503

Uma onda de sangue cobria a fina face de Gonçalo. N’um relance sentiu que o Titulo era um dom do Cavalleiro, não ao chefe da casa de Ramires, mas ao irmão complacente de Gracinha Ramires... E sobre tudo sentia a incoherencia de que, ao chefe d’uma Casa dez vezes secular, mãe de Dynastias, edificadora do Reino, com mais de trinta dos seus varões mortos sob a armadura, se atirasse agora um ouco titulo, atravez do Diario do Governo, como a um tendeiro enriquecido que subsidiou eleições. Todavia saudou o Cavalleiro, que esperava a effusão, os abraços. — Oh! Marquez de Treixedo! certamente muito elegante, muito amavel... Depois, esfregando as mãos, com um sorriso de graça e d’espanto... Mas, meu caro André, com que auctoridade me faz El-Rei Marquez de Treixedo?

O Cavalleiro levantou vivamente a cabeça n’uma offendida surpresa:

— Com que auctoridade? Simplesmente com a auctoridade que tem sobre nós todos, como Rei de Portugal que ainda é, Deus louvado!

E Gonçalo, muito simplesmente, sem fumaça ou pompa, com o mesmo sorriso de suave gracejo:

— Perdão, Andrésinho. Ainda não havia Reis de Portugal, nem sequer Portugal, e já meus avós Ramires tinham solar em Treixedo! Eu approvo os grandes dons entre os grandes fidalgos; mas cumpre