A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
517

No meado de Janeiro, por uma agreste noite de chuva, Gonçalo partiu para Lisboa; e atravez do inverno, em Lisboa, andou sempre nos Carnet-Mondaine High-Lifedos jornaes, nas noticias de jantares, do raouts, de tiros aos pombos, de Caçadas d’El-Rei, tão notado nos movimentos mais simples da sua elegancia, que os Barrôlos assignaram o Diario Illustradopara saber quando elle passeava na Avenida. Em Villa-Clara, na Assembleia, o José Gouveia já encolhia os hombros, rosnando: — «Desandou em janota!» — Mas nos fins d’Abril uma noticia de repente alvoroçou Villa-Clara, espantou na quieta Oliveira os rapazes do Club e da Arcada, perturbou tão inesperadamente Gracinha, então em Amarante com o Barrôlo, que n’essa noite ambos abalaram para Lisboa — e na Torre atirou a Rosa para um banco de pedra da cosinha, lavada em lagrimas, sem comprehender, gemendo:

— Ai o meu rico menino, o meu rico menino, que o não torno mais a vêr!

Gonçalo Mendes Ramires, silenciosamente, quasi mysteriosamente, arranjára a concessão d’um vasto praso de Macheque, na Zambezia, hypothecára a sua quinta historica de Treixedo, e embarcava em começos de Junho no paquete Portugal, com o Bento, para a Africa.