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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

forte... Olhe, primo Antonio, leia a carta. Leia alto! Não tem segredos. É toda sobre o Gonçalo...

Tirára do bolso um pesado enveloppe, com sinete d’armas no lacre. Mas a prima Maria escrevia sempre depressa, n’uma lettra atabalhoada, com as linhas crusadas. Talvez o primo Antonio não comprehendesse... — E com effeito, deante das quatro folhas de papel erriçadas de negras linhas, parecendo uma sebe espinhosa, o Titó recuou, aterrado. Mas o João Gouveia immediatamente se offereceu, com a sua pericia em decifrar officios de regedores... Não havendo segredos.

— Não, não ha segredos, afiançou Gracinha, rindo. É unicamente sobre o Gonçalo, como n’um jornal.

O administrador folheou a immensa carta, passou os dedos sobre o bigode, com certa solemnidade:

«Minha querida Graça... A costureira do Silva diz que o vestido...»

— Não! acudiu Gracinha. É na outra pagina, no alto. Volte a pagina.

Mas o Administrador gracejou, ruidosamente. Oh! está claro, carta de senhora, logo os trapos... E a Snr. aD. Graça a assegurar que era toda sobre Gonçalo. Pois já veriam se pelo meio se não fallava ainda em vestidos... Ah! estas senhoras, com os