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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

se não inventára em tempos de seu avô Tructesindo, e que ao monge lettrado apenas competia «um pergaminho de amarellada escripta...»

E caminhando nos ladrilhos sonoros, desde a lareira até ao arco da porta cerrado por uma cortina de couro, Tructesindo, com a branca barba espalhada sobre os braços cruzados, escutava Mendo Paes, que, na confiança de parente e amigo, jornadeára sem homens da sua mercê, cingindo apenas por cima do brial de lã cinzenta uma espada curta e um punhal sarraceno. Açodado e coberto de pó correra Mendo Paes desde Coimbra para supplicar ao sogro, em nome do Rei e dos preitos jurados, que se não bandeasse com os de Leão e com as senhoras Infantas. E já desenrolára ante o velho todos os fundamentos invocados contra ellas pelos doutos Notarios da Curia — as resoluções do Concilio de Toledo! a bulla do Apostolo de Roma, Alexandre! o velho fóro dos Visigodos!... De resto, que injuria fizera ás senhoras Infantas seu real irmão para assim chamarem hostes Leonezas a terras de Portugal? Nenhuma! Nem regedoria nem renda dos castellos e villas da doação de D. Sancho lhes negava o senhor D. Affonso. O Rei de Portugal só queria que nenhum palmo de chão portuguez, baldio ou murado, jazesse fóra de seu senhorio real. Escasso e avido El-Rei D. Affonso?... Mas não entregára elle á senhora D. Sancha