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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

O lavrador roçou vagarosamente pelas ventas cabelludas o lenço vermelho,enrolado em bóla:

— Sabe as cousas, pensa com acêrto...

— Sim! mas pensamento e acêrto não lhe sahem de dentro do craneo! Depois está muito velho, Pereira! Que edade terá elle? Sessenta?

— Sessenta e cinco. Mas de gente muito rija, meu Fidalgo. O avô durou até aos cem annos. E ainda o conheci na loja...

— Como, na loja?

Então o Pereira, enrolando mais o lenço, estranhou que o Fidalgo não soubesse a historia do Sanches Lucena. Pois o avô, o Manoel Sanches, era um linheiro do Porto, da rua das Hortas. E casado tambem com uma moça muito vistosa, muito farfalhuda...

— Bem! atalhou o Fidalgo. Isso é honroso para o Sanches Lucena. Gente que engordou, que trepou... E eu concordo, Pereira, o circulo deve mandar a Lisboa um homem como o Sanches Lucena, que tenha n’elle terra, raizes, interesses, nome... Mas é preciso que seja tambem homem com talento, com arrojo. Um deputado, que, nas grandes questões, nas crises, se erga, transporte a Camara!... E depois, Pereira amigo, em Politica quem mais grita mais arranja. Olhe a estrada da Riosa! Ainda em papel, a lapis vermelho... E, se o Sanches Lucena fosse homem de