ram perita em cinco linguas contavam apenas as linguas antigas classicas e orientaes — como p. ex. seu fiel amigo, o velho Resende, na composição de 1551! Perita em nove linguas seria mais exacto.
166 Retrato de pura phantasia, abstrahido das noticias soltas, espalhadas nas obras que me servem de fonte.
167 As redacções eram cinco, como fôra de esperar, e não tres como por engano foi affirmado. O proprio papa assim o expõe na memoravel resposta de 6 de janeiro do 1547, com que a distinguiu, dizendo: Delectati valde sumus in Domino ex tuis litteris quas ad nos latine, graece, hebraico, syriace, atque arabice scriptas dedisti. — E' natural que apenas se publicasse o texto em latim (1566, 1862 e 1880). Mas para nós, os philologos, formarmos ideia dos conhecimentos positivos de Luisa seria muito para desejar que em Roma procurassem as outras versões, principalmente a arabe. Em vista das sérias difficuldades com que teve de luctar Nicolau Clenardo, para travar relações com arahistas doutos, bom era apurar quanto a Sigea sabia.
168 O curioso encontra o Breve do Papa e a Carta de Luisa na Memoria de Silvestre Ribeiro (a p. 25 e 37), cujo titulo indico na Nota 183. As outras impressões são rarissimas.
169 Em testemunho de que realmente foi mestra da Infanta, basta citar uma passagem da carta de queixumes e sollicitações que a propria Luisa dirigiu em 1558 a Felipe 11. Diz ella: «não sem gloria desempenhei as minhas funcções como preceptora da Serenissima Infanta D. Maria» (erga Mariam Infantem Serenissimam praeceptoris munere non infeliciter usa. — Vaseu, dirigindo ao Cardeal-Infante D. Henrique a sua Chronica Rerum Memorabilium Hispaniae, metteu entre os louvores tributados aos Sigeos a sentença: in familia est Ser. Maria principis primariæ. O Arcediano só pode repetir o que constava a todos: «el padre la puso en palacio en servicio de la Princesa Maria». Deante do seu tumulo, Resende perguntava: Quem teria sido mais apto a servir de mestra da Infanta?
Ecqua autem Maria divino principis ortu
aptius a studiis danda ministra fuit?
170 Enuma epistola intima a seu cunhado Alonso de Cuevas que se lêem as expressões citadas.
171 De varias cartas transpira a consciencia que tinha da sua nobreza scientifica, a qual obriga tanto como a do sangue. Para todos os seus requer aquella condição que convém aos irmãos e ao esposo de Sigea, a Polyglotta..
172 Vid. Nota 170.
173 De dois irmãos seus, o mais velho, educado com ella, havia estudado theologia em Alcalá e Coimbra; o mais novo estava em Roma, em companhia de Gaspar Barreiros, desejoso de alcançar um emprego, junto da curia.
174 Enganam-se os que crêem destinada a Paulo III (Farnese) a carta escrita em Julho de 1557. Este morreu em 1549. Paulo IV (Caraffa) occupou a Santa Sé de 1555 a 1559.
175 Na sentida inscripção tumular do marido não ha data. Tão pouco no epitaphio do francês Claude Monseau, nem na que foi elaborada em Portugal por André de Resende. As que indico acham-se exaradas no epitaphio litterario, composto por Juan de Merlo (port. Mello, lat. Merulus), coevo, patricio e amigo de Diogo Sigeu. (Vid. Nic. Ant. e Gallardo, Ensaio N.° 1494). Alguns auctores pensam que Luisa morreu em 1561, fiados nas palavras do Arcediano de Alcor, que a deu por viva ainda nesse anno. O facto de as homenagens funebres de Resende terem sahido em 1561 não é decisivo para a data 1560. O robusto ancião trabalhava com desembaraço tal, e a sua veneração pela Heloisa portuguesa era tão férvida que, sabendo do seu passamento em principios de Novembro, o resto do anno chegava para elle compor e fazer imprimir a sua concisa commemoração (quatro folhas apenas): Ludovica Sigaa Tumulus L. Andrea Resendio Auctore. Apud Hæredes Germani Galiardi, An. M. DLXI. Olyssippone. Venalis apud Iohnnem de Borgo. Regium Bibliopolam in vico novo. Nicot as reimprimiu em 1566.
176 O algarismo está fóra do seu logar. As palavras «rica em trabalhos e em encomios» é que se refere esta minha glosa sobre as riquezas de Luisa. Lá fóra não quiseram acreditar que em Portugal os governantes lhe faltaram com a justa remuneração. João de Mello, o de Toledo, citado em a Nota anterior, — auctor de uma collecção de proverbios — rematou o seu epitaphio com a sentença: «Toledo lhe deu a vida; a Lusitania honras e riquezas (Lusitania honores et divitias dedit); Burgos o marido, a filha, o coval.» E essa fama voou. Vejo-a assentada p. ex. na Italia et Hispania Orientalis de Paulo Coloma (1730), que affirma: non modicas opes ex regali munificentia sibi paravit.
177 Nem todos os panegyristas se conformaram com este titulo. — E' curiosa a opposição de Resende. No dithyrambo sincero em que exalta os meritos da Sigea, são as nove Musas que choram o seu fim prematuro. Mais ainda porém, o facto... de não a poderem admittir no seu côro virginal! Para que tambem se lembrou ella de casar? Tres vezes entoam o estribilho:
Et nisi virgineum thalamus violasset honorem
Hac ultra noster cresceret ordo novem!
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