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mãe da Infanta. Não é estranhavel que Nicolas Antonio lhe désse o appellido de Meneses. — Nascida em 1488, em Evora, morreu em 1563. venerada pelas suas virtudes, conforme se lê no Agiologio Lusitano de Jorge Cardoso (1 454). Essa dama traduziu do latim a Chronica do Mundo de Marco Antonio Sabellico, chamada Enneadas por andar dividida em onze partes (e não Aeneidas ou Eneida!) O livro sahiu dedicado á Rainha D. Catharina (1550 e 1553). As duas partes que tratam do christianismo ou da Redempção, tiveram edição separada, a qual o editor João Barreira endereçou em 1570 à Infanta D. Maria. D'ahi a fama que D. Leonor pertencera á Academia da Infanta.

140 Falta-nos até hoje copia exacta e completa das listas dos moradores da Infanta. Quanto ao livro das moradias da casa de D. Catharina, tambem só possuimos extractos insufficientes. Na Hist. Gen. (Provas II e IV), nem mesmo estão consignados os nomes de Joanna Vaz e Luisa Sigea, que o Visconde de Juromenha descobriu nos originaes, com verba de latinas e 6$000 reis de ordenado. Vid. Obras de Camões I p. 31.

141 A Epistola poetica a que me refiro — o titulo está impresso na Nota 59 — foi a meu ver composta no mesmo anno de 1551, em que o Eborense recitou o seu discurso academico. Mas anteriormente a 9 de Junho, dia de annos do reinante, em que era praxe celebrarem a reforma da Universidade em commemoração solemne. Na Dedicatoria, anteposta ao Discurso, Resende affirma ter sido «outro dia» recebido pela augusta dama com muita affabilidade: qua me etiam in tuam fidem non gravate pridie adcepisti.

142 Ignoro se Joanna Vas (Nicolas Antonio, seguido de muitos outros, dá-lhe o nome de Anna) estava por ventura aparentada com a mãe de Resende. Essa chamava-se Angela Leonor Vaz, segundo consta do pathetico epitaphio que o grato filho inscreveu na sua lousa. Graças ás investigações de Barbosa Machado sabemos apenas que o pae de Joanna era licenciado (João Vaz) e o irmão, conego e doutor (Antonio Vaz).

143 D. Manoel de Salinas y Lizana, Preposito e Conego da Catedral de Huesca, no reino de Aragão.

144 Quem, abrindo a Vida da Infanta se der ao trabalho de estudar as folhas 135 a 143 ficará surprehendido ao ver attribuido a Achiles Estaço o poema que eu lhe apresentei como obra de Resende. Não sei explicar o erro de Pacheco, que já passou para livros de consulta como o Catalogo de Salvá (n. 3484). Apenas posso affirmar que o douto frade se enganou e que sou eu quem lhe diz a verdade. Possuo o rarissimo folheto que o Eborense mandou imprimir em Coimbra, nos prelos de João Barreira e João Alvares, em Junho de 1551 (Quarto Calendas Julii) a fim de offertar á Infanta a Oração, a Dedicatoria, o Poema, e ainda uns versos a Christo Crucificado. — Salinas y Lizana illustrou as obras de Gracian com uma versão dos Epigrammas de Marcial, e contribuiu com rimas para varios certamens celebrados na segunda metade do seculo XVII.

145 João de Barros principiou a redacção do Espelho de Casados em 1529, coucluindo-a no anno 1540, que é o da impressão. Ha edição moderna (Porto, 1846). — De passagem seja dicto que o historiador designa como patria sua a cidade de Viseu no § 32 do Panegyrico da Infanta.

146 Eis o teor literal do trecho em que Barros quer demonstrar a these que as mulheres são em sciencia tão habeis e tão «sabedoras» como os homens. «Mas acabo este conto, com quem fora razam hir mais cedo, que he Joana Vaz, natural de Coimbra, criada da Rainha Nossa Senhora, por suas virtudes e doctrinas muy aceita a ella nas lettras latinas e outras artes humanas mui docta, de quem vi algumas cartas por que bem se pode provar esta noticia que dou della».

147 Fernan Nunes de Guzman, Comendador da Ordem de Santiago (1553), é mais conhecido por esse titulo, que os coevos lhe deram-distinguindo assim o varão que em Alcalá e Salamanca era o mais profundo conhecedor do idioma de Homero. Hoje estimamo'-lo especialmente como collector de 6:000 proverbios peninsulares.

148 Os versos dirigidos a Joanna Vaz formam parte de um livrinho raro e precioso: Arii Barbosa Lusitani Anti-Moria, Coimbra, Santa Cruz, 1536.— Vid. p. XXXVI: Ad Johannam Vaas.

149 Calculo que ella entraria em 1530 no paço da Rainha e que nesse anno começaram os estudos de latim da Infanta D. Maria. — Do Cardeal-Infante D. Affonso sabemos que gastou sete annos nesse estudo, com mestres competentissimos como Ayres Barbosa. — E' este erudito que assim o confessa na Introducção ao livro acima citado, que dedicou ao discipulo: Hoc alterum laboris nostri munus septennio absoluimus in quo & loquendi & orandi & disserendi artem didicisti cum ceteris humanitatis munditiis. Com respeito a Joanna Vaz, ainda o seguinte: No Poema de Resende ha uma passagem que parece estar em contradicção com as phrases sobre a sua idade, pois diz, gabando os seus bons costumes, que até então passou sem culpas a sua juventude (ut sileam mores inculpateque iuventam hactenus exactam). Não seria, comtudo, inexacto traduzirmos: toda a sua juventude.

P. S. — Graças ás inquirições a que procedeu o distincto paleographo a que já alludi ao fallar da letra da Infanta, sei agora (a 28 de maio de 1901) que não me enganei nos meus calculos. O 1.o livro de Moradias da Casa da Rainha em que aparece Joanna Vaz, é de 1530.

Sei mais (em data de 27 de junho) que a Joanna Vaz estavam entregues e confiados em 1534 os codices e livros da Rainha D. Catharina. Vid. a laboriosa e muito interessante Memoria de

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