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nas mesmas condições. Além de malandros e ociosos, são na maioria velhacos, vivem a explorar os lavradores e negociantes com pedidos de adiantamentos de dinheiro, e, tão depressa se pilhem servidos, passam-se a outro patrão, sem pagar ao primeiro, nem com trabalho, nem em generos ou dinheiro. Nestas condições, vive-se no interior do Maranhão sem poder aumentar as áreas de plantação (grifo estas palavras), porque não tem quem delas cuidar; se se róça com bastante gente, falta o pessoal na epoca da coivara; se não é aí é na plantação, capinas, colheitas, etc., do que resulta prejuiso de tempo, de dinheiro e da produção».

III

Temos aqui, na verdade, a população da órla marinha, afeita exclusivamente á pesca, não dum modo industrioso e aperfeiçoado, que possa garantir a prosperidade financeira, mas a pesca de modo rudimentar e preguiçoso, que basta para a alimentação da próle e pouco mais, como a satisfação de alguns vicios. Trasbórda pois de razão o artigo do sr Coelho de Sousa. O cabôclo das nossas praias é sobremaneira indolente e sem ambições. Pescando o que dê para comer e comprar fumo e a diamba, de mais nada se preocupa. Sem habitos de hijiene, dórme numa rede mezes seguidos—e, com duas mudas apenas de uma roupa grosseira de pano de algodão resistente, passa o ano sem mais despezas que não sejam as que tenham de fazer com os petrechos para o ofício. Não planta uma arvore, não cultiva absolutamente nada, nem mesmo a diamba de que tanto usa !

A diamba, que é sem duvida o seu vicio predileto, pois dêle parece receber as mais gratas excitações na vida, é a Cannabis indica, planta que, fornecendo á intria o canhamo, materia têstil que se obtem das firas da haste, fornece tambem haschich, o célebre veneno oriental. O seu uso veio-nos da Africa, com a escravidão, afirma o ilustre professor Rodrigues Doria, numa erudita memoria, apresentada ao segundo Congresso Cientifico Pan-Americano, reunido em Washington, e