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sua bibliotheca portatil. Voavam as horas a Augusto n’aquelles serões; n’elles aprendeu todos os nomes da nossa litteratura moderna, bem como os principaes da de França e de Inglaterra.

Quando o engenheiro partiu da aldeia já Augusto sabia o francez bastante para se aperfeiçoar por si; este amigo deixou-lhe em lembrança grande parte dos seus livros, que Augusto releu muitas vezes.

Attingiu finalmente Angelo a idade de precisar do collegio. O conselheiro, ao leval-o comsigo, insistiu maïs uma vez com Augusto para que viesse tambem e acceitasse o legado da morgada. Foi em vão, encontrou-o ainda inabalavel.

E d’esta vez fez publica a sua desistencia, e o ambicionado patrimonio foi concedido a outro.

Mezes depois morria o velho mestre-escola da aldeia.

Augusto escreveu ao conselheiro, declarando-lhe que pretendia aquelle logar, que já havia muito tempo servia, e pedindo-lhe para que se interessasse por que elle o obtivesse. O conselheiro quiz tirar-lhe da ideia tal projecto; escreveu-lhe que, na idade em que estava Augusto, o não ter ambições era indicio de uma profunda doença moral; que a posição a que elle aspirava, equivalia a uma sepultura estreita a que se acolhesse vivo. Augusto persistiu porém no intento; o conselheiro empenhou-se por elle em Lisboa. Conseguiu que uma portaria, meio pelo qual se faz em Portugal tudo que é contra lei expressa, o dispensasse da idade que ainda não tinha, pois mal completára dezenove annos, e Augusto foi por conseguinte admittido a concurso para tão pouco disputado logar e provido n’elle por très annos. O conselheiro, a quem não fôra impossivel obter-lhe despacho vitalicio, quiz vêr assim se, no fim de très annos, o obrigava a abandonar tão laboriosa e mal recompensada carreira, e de proposito o fez despachar temporariamente. Comquanto o legado da morgada tivesse tido já outra applicação, o conselheiro