125

Leitor philantropo, que, abrazado em santo amor da humanidade, só entrevês delicias na tarefa do ensino, e fazes d’este vigiar e encaminhar o espirito infantil, que desabrocha e respira pela primeira vez no fecundo ambiente da sciencia, um seductor quadro de phantasia, perdôa-me a palavra, supplicio, de que me servi, e perdôa ainda mais ao caracter de Augusto o ter saido exacta a expressão, que te feriu os humanitarios instinctos.

Eu bem sei que é uma sublime missão a do mestre: e que é uma graciosa e amoravel idade a da infancia, e poucos melhor do que Augusto possuiam presente o ideal de uma e amenisavam á outra com branduras os amargores do penoso tirocinio; — mas que importa? nem por isso é menos real o supplicio. A cultura dos espiritos é como a cultura das terras. O lavrador exulta, estremece de prazer, vendo pullular do solo, arado e semeado de pouco, os rebentos do grão que o calor fez germinar, e volverem-se as folhas, estenderem-se e enflorarem-se os ramos, penderem os fructos e colorirem-se das tintas da madureza; mas, emquanto vergado, coberto de suor, arquejante, se afadiga a arrotear o terreno duro e quem sabe se ingrato aos seus cuidados, muita vez lhe fallece o alento, e se olha de quando em quando para o céo, não é para lhe agradecer, com risos os gôsos que elle lhe dá; mas para lhe pedir, com lagrimas, a fôrça que lhe mingúa.

De igual modo, se é grato ao cultor das intelligencias o vêl-as desenvolver, florir, fructificar; ardua, improba, desesperadora é muita vez a tarefa da sua primeira educação. É mister possuir um grande thesouro de ideal, para que o suave e risonho typo, que da infancia concebemos, não se transtorne, na phantasia d’estas victimas d’ella, em não sei que figura diabolica e maligna, que lhes envenena todos os momentos de alegria.

Além d’isso, o pobre professor de instrucção primaria, sobre quem pesam os mais fastidiosos en-