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um tom natural, mas sob o qual transparecia ainda certa malicia, Magdalena continuou: — Pois é verdade, dizias tu que não sabias por que o primo Henrique de Souzellas...

Christina fez um movimento impaciente, como para levantar-se.

— Então que é isso? Não me acceitas a expiação? — perguntou Magdalena, sorrindo.

— Não; não quero que se fale mais no sr. Henrique de Souzellas. Vejo que te não é agradavel que as outras se occupem d’elle. Sejam quaes forem as razões que tens para isso...

— Bravo! Foi admiravel de maldade o entono com que disseste esse: «Sejam quaes forem as razões.» E venham-me falar na candura d’esta creança!

— Eu não quero dizer...

— O que queres dizer, não sei; mas vejo que não és senhora tua quando se fala n’este assumpto.

— Que lembrança! — tornou Christina, cada vez mais embaraçada — pois imaginas devéras que eu?...

— E por que não?

— Lena!

— Não ha nada mais natural.

— Se queres, juro-te...

— Ah! atalhou a morgadinha, pondo-lhe a mão nos labios. — Isso não, que é mais sério. Jurar não te deixo eu. Conheço os escrupulos da tua consciencia, e não quero obrigar-te a remorsos. «Juro!» E com que ousadia ias pronunciar um juramento falso!

— Falso!

— Falso, sim; falso como os que o são. Olha, minha pobre Christe, queres então que te fale com toda a franqueza? Esta conversa trouxe-a eu de proposito para confirmar umas suspeitas, que se me formaram e que vejo agora que eram fundadas.

— Suspeitas! que suspeitas?...

— O primo Henrique de Souzellas deixou em ti uma tal ou qual impressão.