N’estas alturas do almoço encetou novamente Henrique o tiroteio de amabilidades, de que por muito tempo não sabia prescindir.
Dir-se-ia ser este o signal para se perturbar a santa harmonia do congresso. Parecia que todos os outros, maïs où menos, se sentiam contrariados.
Henrique ficára sentado junto da parede da capella. Inclinando-se sobre o espaldar da cadeira a saborear um charuto havano, descobriu umas letras escriptas na parede, exactamente por cima da cabeça.
—Bravo!—exclamou, depois de as ler para si—não imaginava que havia poetas na aldeia! Querem ouvir?
E leu:
Se estás maïs perto do céo
N’estas alturas da serra,
Ai, porque tens, peito meu
Inda saudades de terra?
Em vez-de erguer os olhares
A' luz d’este firmamento,
Desço-os á sombra dos lares,
Onde tenho o pensamento.
—É pena que a chuva apagasse o resto. Quem é o bardo, prima?
—Não sei; da aldeia de certo que não é—respondeu Magdalena, com indifferença.
Augusto ergueu-se da mesa e foi passeiar para a alameda.
—Da aldeia, não, diz a prima; e por que não? Com está natureza é fácil crearem-se os poetas. Eu estou vendo n’esta quadra a folha solta de um romance. Aquí a serra de algum Bernardim inedito, tão capaz de escrever saudades, como de as sentir. Os lares, pela sombra dos quaes o olhar do poeta trocava os esplendores do céo... algumas d’essas casas, que ahi se vêem em baixo. Quem sabe se não será até o Mosteiro? Eu, por mim, confesso que se estivesse hoje aquí só, ou em outra com-