que se pagam caro e com lagrimas, rapaz. Bondade de coração, com a cabeça... assim, assim... a dar esmolas aos pobres se satisfaz; cabeça de fogo, mas coração de gêlo... todos os meios de levar ao fim ambições, tanto os bons como os maus, todos lhe servem; mas coração como o teu, com o espirito que tens!... ai, pobre Augusto, se se escapa ao infortunio, é por milagroso poder do Senhor.
— Não o entendo, tio Vicente, — disse Augusto, com manifesta confusão.
— Não! Olha para mim. E vê se te atreves a repetil-o.
Augusto baixou a cabeça.
O velho sorriu com ar de commiseração e sympathia.
— Tu ainda não sabes fingir. Vamos lá; e cuidas que me não havia de custar, se não tivesse acertado? — E, depois de breve pausa, continuou: — Mas ainda quando penso em como tu, uma cabeça forte, assim te deixaste enfeitiçar!... — E tomando o calice, que tinha defronte de si, disse com resolução — Quero beber á tua saude, Augusto, e para que em breve se te desfaça essa loucura.
Quando ia a levantar o calice aos labios, a mão de Augusto susteve-lhe o braço.
— Não beba. Loucura embora, deixe-me viver e morrer com ella. Sou feliz assim.
— Ah! — disse o velho herbanario, tomando um ar mais grave; e pousou o copo, sem desviar de Augusto o olhar penetrante e fixo.
Augusto, depois de um curto silencio, proseguiu com maior vehemencia e colorindo-lhe as faces um não costumado rubor:
— Sim. Por que o não hei de confessar? Essa loucura que diz, trago-a commigo, vivo com ella e quasi que para ella. Quero-lhe assim, e não a desejaria perder. Amor? não é; a tanto não chega... antes um culto, isso sim. É uma adoração como