Era este o ponto fraco de Henrique; respondeu logo ao reclamo.
― Não me digam isso! Então não vêem como estou? Pois isto é lá côr de saude? de febre, será. Gordo? pois acham-me gordo?!
― Gordo, não digo, mas assim, assim... E depois como vieste de jornada... Mas a final que molestia é a tua, menino?
― Eu sei lá, tia Dorothéa? Nem os medicos a conhecem bem. É, entre outras coisas, uma tristeza, uma melancolia, que me não deixa, que me persegue por toda a parte. Ás vezes parece-me que sinto apertar-se-me dolorosamente o coração; outras, são palpitações, ancias... Tenho quasi vontade de chorar, irrito-me, impaciento-me, não quero que me falem, nada quero vêr, nada quero ouvir; não leio, não durmo, não como. Finalmente todo eu sou doença e tristeza.
A boa tia Dorothéa olhava com sisudez e attenção para o sobrinho, emquanto elle falava, e na physionomia iam-se-lhe desenhando, ao ouvil-o, os mais expressivos signaes de espanto e consternação.
Assim que Henrique terminou a exposição, ella disse-lhe com uma adoravel candura:
― Então é assim uma especie de mania!
Á palavra «mania» Henrique sobresaltou-se. Seria a consciencia que se sentiu ferida?
― Mania? Ó tia Dorothéa! Mania! Veja bem, olhe que o termo é forte? Mania!
― Sim, menino ― insistiu ingenuamente a boa senhora ― pois olha que não é outra coisa. Pois isto de estar triste sem ter de quê... sim... porque não te morrendo ninguem, nem te doendo nada...
Ó poetas devaneiadores, ó almas melancolicas, que percebeis no sussurrar das brisas, no ciciar das folhas, no murmurar dos arroios, queixas occultas de dryades e de nayades, sentidas vibrações das harpas de fadas aereas, que vivem em palacios de