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sonhei... Não chore assim, meu pae! Não culpe ninguem, fui eu, eu que pedi a minha madrinha!... Foi por a salvação da minha alma, porque...

— E foi tua madrinha que t’os cortou?

— Foi, mas... É que o missionario tinha dicto... O missionario é um santo!... Não olhe para mim d’esse modo, meu pae, que me faz mêdo.

E cobria os olhos com as mãos, para não ver a expressão do rosto do Cancella.

— Querem matar-me a filha — bradava elle. — Ó meu Deus! pois não é isto um grande peccado? fazer da creança, linda e alegre, que eu deixei aqui, esta desgraçada rapariga, sem côr, sem risos, sem alegria! Não é isto um crime, meu Deus? Não se vos pode amar e servir, Senhor, senão com lagrimas, com penitencias e com tristezas? Não! Mentem elles! mente esse missionario! mente essa mulher! mentes tu, filha! e maldicto seja quem traz assim o desespero ao coração de um pae.

E o Cancella levantou-se exasperado, sacudindo rudemente de si a filha, cada vez mais gelada de terror e afflicção. Deu alguns passos no corredor, e voltou ao quarto onde a encontrára. Ella seguiu-o de mãos postas, chorando, pedindo-lhe que se não affligisse assim. Mas o Cancella era dominado pela impetuosidade do seu genio. Nem a ouvia. De repente, parou, fitando os olhos no registo do Coração de Maria, que alli fôra introduzido por a mulher do Zé P’reira. Estava adornado com jarras de flores e vélas de cêra; era a esta imagem que Ermelinda fazia oração, quasi extatica, quando o pae entrou.

— Coração de Maria! — disse o Cancella, quasi desvairado, conservando a vista fixa na imagem, e como falando para si. — Coração de mãe, e de mãe extremosa, que foi esta, e bem lanceada de dores. Soube o que é querer a um filho, o que é vêl-o padecer... o que é perdel-o... E será ella a que deseja as lagrimas, as tristezas e a morte d’esta