Augusto olhou para o periodico e para a carta, sem bem saber o que fazia nem o que queria dizer tudo aquillo.
— Mas, por amor de Deus, minha senhora, — disse elle, já sobresaltado — que quer dizer tudo isto?
— Quer dizer, sr. Augusto, que, quando para outra vez se lembrar de atraiçoar mais alguem que o tenha favorecido, seja mais cuidadoso em esconder as provas da sua villeza.
— Minha senhora! — exclamou Augusto, fazendo-se pallido.
— Fez mal em não nos ter prevenido antes do que tinha descoberto; nós ainda tinhamos bastante dinheiro para cobrir o lanço e ficarmos com a carta.
— Oh, meu Deus! pois suspeita-se...
E Augusto, quasi como louco, arrancou das mãos de D. Victoria a folha, e começava a lel-a; mas as nuvens que lhe passavam pelos olhos, a vertigem que lhe turbava a cabeça não o deixavam comprehender o que lia.
Emquanto Augusto assim luctava comsigo mesmo, D. Victoria dizia:
— Agora é que eu entendo o que queria dizer o primo Henrique. Sempre é um homem que sabe o que é o mundo...
Ao ouvir estas palavras, Augusto arrojou de si o periodico, e scintillou-lhe o olhar de cólera:
— Ah! Foi elle? Sim... Havia de ser. Devia suspeital-o. Era de esperar que o fizesse. É o pretexto. Minha senhora, ha aqui uma traição infame, uma traição que eu não ousaria suspeitar de ninguem! Mas juro-lhe que...
— Ha de dar-me licença de ir accommodar meus filhos — disse D. Victoria, interrompendo-o friamente. E encaminhou-se para a porta.
Augusto viu-a afastar-se, e disse-lhe em tom sereno, mas commovido:
— Vá, minha senhora, vá; mas se tem a essas