—É verdade! é verdade! Abaixo! abaixo!
—São invenções dos pedreiros-livres!
—É isso, é isso... Pois não vêem que são de pedra!
—Abaixo! Abaixo!
O sr. Joãozinho, arrojando de si o chicote, tirou um machado das mãos de um homem que lhe ficava proximo, e deu alguns passos para o tumulo.
Magdalena collocou-se deante d’elle.
Já não estava pallida; tinha nas faces o rubor, nos olhos o lampejar da indignação.
—Afaste-se, senhor!—bradou ella, estendendo a mão para o ébrio, que parou a fital-a com olhos espantados. Nem sequer pouse os pés nos degraus d’esta sepultura. Aquí repousa minha mãe. Atraz!
A figura, o olhar, a voz, as palavras de Magdalena exprimiam uma das resoluções energicas e potentes d’aquella indole sympathica, que aos affectos e branduras de mulher sabia combinar a firmeza e energia quasi varonis.
O morgado sentiu uma vaga consciencia da sublimidade d’aquella scena, e ficou enleado.
Porém o Cosme, o seu genio mau, não sei que lhe murmurou ao ouvido, que elle desatou a rir a maïs alvar gargalhada que ainda escancarou bôca humana.
Estendendo para Magdalena a mão callosa e grosseira, disse-lhe, com um sorriso que tinha tanto de cynico como de estúpido:
—Está dito! Toque! Gosto d’esse desengaño! Toque!
Magdalena repelliu-o com despreso e aversão.
—Ah! ah! Faz-se fidalga!—disse o sr. Joãozinho, despeitado.—Pois não anda bem.
O missionario inclinou-se ao ouvido de um homem do povo que, depois de escutal-o, bradou:
—Abaixo com o tumulo dos pedreiros-livres.
—Abaixo!...—repetiram muitas vozes.
—Pois vá abaixo!—repetiu tambem o sr. Joãozinho, adeantando-se com o machado.