205

lhe fez o brazileiro. O morgado está muitas vezes com a corda na garganta — explicou malignamente o Tapadas, cujo scepticismo, robustecido no uso das demandas e da politica, não achava explicações tão plausiveis como a corrupção.

— E depois o homem tomou as dores pelo Vicente herbanario — insistiu o tendeiro.

— Ora adeus! — disse o Tapadas. — Bem me fio eu n’essas compaixões. Quem não os conhecer...

— E que tem o tôlo com os negocios do herbanario? — insistiu o conselheiro, de mau humor.

— Então? Deu-lhe para alli.

— Qual historia! Para mim é que vem com isso?! — teimava o sceptico Tapadas.

— Tambem uma coisa que buliu com elle foi aquillo no outro dia na taberna com este senhor — disse o Pertunhas, designando Henrique.

— Sinto, sr. conselheiro — disse este — se de alguma maneira concorri...

— De modo nenhum. Aquelle selvagem vae para onde o empurram. Á ultima hora é capaz de mudar de tenção. E por causa d’elle é que ficou despachado professor um pateta em vez de Augusto.

Depois de dizer estas palavras, o conselheiro accrescentou, com despeito:

— Mas até certo ponto foi bom para me desenganar a respeito do caracter de certos homens. Ha vinganças tão torpes e mesquinhas, que nenhum aggravo as justifica.

Henrique procurou defender Augusto; achou porém o conselheiro obstinado na sua crença.

Henrique alludiu ao brazileiro Seabra, como o mais plausivel promotor da intriga.

— Embora o fôsse — respondeu o conselheiro — mas que tem isso? O Seabra não veio a minha casa, não suspeitava da existencia de tal carta. Alguem houve que a leu primeiro e que lh’a foi entregar depois, e já é ser muito indulgente suppôr que