estranhar que estas cartas estivessem causando a Augusto o effeito que dissemos.
Cada uma era uma revelação.
Augusto vivera sem o saber, sob a influencia benefica da morgadinha; d’ella lhe viera pois grande parte da instrucção que recebera, alli, na solidão d’aquella aldeia!
O mysterio dos presentes do herbanario, a que tão diversas explicações dera, esclarecia-se emfim. Havia-os attribuido a Angelo; suspeitára, pelo menos, que era a elle que o herbanario se dirigia para escolher os livros.
Nunca, porém, se lembrára de Magdalena; agora, que sabia de que origem provinham, beijava-os, como sagradas reliquias, venerava-os com expansões de verdadeira idolatria. Já não tinha coração para se separar d’elles.
Nas cartas em que Magdalena se referia, mais ou menos jovialmente, aos cuidados que parecia dar ao herbanario esta sympathia manifesta d’ella por Augusto, não havia para elle menor encanto. Pelo que tantas vezes lhe dissera o herbanario, conjecturava de que natureza deviam ser as reflexões a que Magdalena alludia.
O velho Vicente estava, por assim dizer, no meio d’aquelles dois corações, estudando-os a ambos, receiando por ambos, lidando por extinguir n’um e n’outro a sympathia que via crescer e que ameaçava degenerar em paixão. Toda a sua intervenção consistia em fazer com que elles se não revelassem; era o meio isolador que impedia que se ateasse o incendio. Nas suas mãos paravam os dois fios da corrente, só elle a interrompia.
Esta situação do herbanario era para elle causa de grandes iuctas.
Amando Augusto com sentimento paterno, tinha ambições por o amigo; e, ás vezes, movido d’ellas, sentia-se tentado a favorecer aquella paixão. Por outro lado, não estimava menos Magdalena, e prevendo