modesto logar que elle exercia, mas até levantei contra elle uma accusação infamante, e quasi o expulsei de minha casa... É triste que a vida politica me tenha obrigado a estas crueldades! Preciso de compensar de alguma sorte o mal que fiz. De que maneira lhes parece melhor?
— Eu se fôsse — disse D. Dorothéa — fazia como a morgada, e o rapaz, em vez de vir a ser só padre havia de se formar em Coimbra, como o reitor de Friande...
— Isso era se elle quizesse ser padre; — acudiu D. Victoria — mas parece-me que não quer. Nada, nada, eu o que fazia era demittir aquelle velhaco do Pertunhas, e dava a este o logar de mestre de latim, e arranjava que ficasse tambem com o correio. Ora anda, já que o outro foi tratante!...
O conselheiro sorriu ao expediente da cunhada, e não pôde deixar de dizer:
— N’esse caso deixava só ao Pertunhas a regencia da philarmonica? E tu, Lena, qual é a tua opinião?
Magdalena respondeu sem vacillar:
— A minha opinião é que o pae deve ir a casa de Augusto, pedir-lhe humildemente perdão pela offensa que lhe fez.
— Mas involuntaria — ponderou o conselheiro, em tom de despeito, que não pôde bem disfarçar.
— Mas offensa — repetiu Magdalena, sem que o sorriso dissipasse totalmente a fôrça da expressão.
— É um pouco dura de cumprir a sentença, sobretudo esse adverbio humildemente... Não lhe parece? — perguntou o conselheiro, voltando-se para Henrique.
— Eu tinha vontade de dizer tambem a minha opinião — respondeu Henrique; — mas receio certos melindres... Comtudo, parece-me que encontraria uma recompensa, que poderia fazer esquecer a Augusto a offensa e dores muito mais pungentes do