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— É uma coisa muito simples — respondeu Henrique. — Augusto sentiu o effeito dos encantos da minha prima Magdalena, mas sentiu-os a ponto de ligar a elles a sua felicidade, e de cair em adoração para com a magnetisadora.

Esta explicação foi recebida com espanto por D. Victoria.

— Ora! está a brincar, primo Henrique? Não ouve aquillo, prima Dorothéa?

— Mas que é, que é? — perguntou esta.

-Diz que o Augusto aspirava...

— Perdão, eu disse que o Augusto adorava e não aspirava. Quem pode tomar contas a um coração do culto que elle guarda religiosamente em si? A prima Lena é adorada por aquelle rapaz, isso affirmo eu, porém...

— É possivel! — exclamou tambem D. Dorothéa, espantada. — Por essa não esperava eu. Olhem para o que lhe havia de dar! Pobre Augusto!

O conselheiro ria ainda da noticia que recebera.

Magdalena córou ao ouvir todas aquellas exclamações de estranheza. Cedendo ao impulso energico do seu caracter impetuoso e apaixonado, disse com vivacidade:

— Não sei que haja no que diz o primo Henrique nada que mereça esses espantos. Pois quem sou eu a final? Que distancia me separa da humanidade, para que se tenha por um desacato uma affeição que inspire? É verdade. Julgo que não se enganou o primo Henrique. Tambem eu descobri esse affecto em Augusto. Nasceu-lhe no coração e não na cabeça, meu pae. Ha muito que o sei, e nunca a descoberta me causou o espanto que vejo nos outros. Digo mais, causou-me orgulho. Orgulho, sim, porque é natural sentil-o por ter inspirado sentimentos d’aquella ordem a um caracter generoso que, experimentado pelo infortunio, saiu sempre da prova mais nobre e mais puro do que d’antes.