― Não é ella a mãe, visto isso ― pensou Henrique, como quem modificava uma opinião que concebera antes e folgava com a modificação. ― Será irmã? Talvez... Ou mestra... É mais provavel que seja mestra. Esta mulher foi de certo educada na cidade. Tem uns ares distinctos...
E elevando a voz:
― v. ex.a está-me recordando uma scena de um precioso livro, que nunca me canço de ler.
― Qual é?
― Werther.
― Ah!
― Conhece?
― Conheço... quero dizer, li-o, por acaso, ha pouco tempo. Compara-me a Carlota? É por estar a distribuir as rações d’estas creanças? Que mulher ha que não seja Carlota, n’essa parte? Em todas as casas se passa uma scena assim. Bem se vê que não tem familia.
― Por quê?
― Por lhe fazer tanta sensação o espectaculo d’esta.
― É certo ― respondeu Henrique com melancolia. ― Deve ser essa uma das causas; mas não a unica ― accrescentou galanteadoramente.
E, de si para si, estava encantado de saber que a sua interlocutora tinha lido Werther.
Magdalena, para mudar de conversa, perguntou-lhe:
― Então que lhe parece esta nossa aldeia?
― Um jardim. Hontem, ao chegar, confesso que me foi desagradavel a impressão recebida. Nem admira; a noite, o frio, a chuva, o cansaço. Esta manhã, porém, a transformação foi completa. Estou encantado, fascinado! N’uma palavra, minha senhora, eu, cidadão em corpo e alma, reconciliei-me em poucas horas com a vida do campo.
― Desconfie da mudança rapida. Habitos radicados, qualidades ou defeitos de educação não se