nos tratamos como parentes: ha de vêr. Não repara como eu o recebo n’uma sala de jantar, sem nem sequer tirar os babeiros a estas creanças? Olhe lá que fizesse o mesmo em Lisboa...
― Então v. ex.a já lá esteve?
― Eu nasci lá e lá me eduquei.
― Ah! bem se vê.
― Ah? Ahi está um ah, que eu desejaria muito que me explicasse.
― Não me será difficil fazel-o. É que antes já de ouvir falar v. ex.a, só ao vêr certa distincção, certa elegancia de maneiras, conjecturei...
― Basta. É um ah portanto, que tem umas poucas de más qualidades.
― Devéras? Uma interjeição tão innocente!
― Pelo contrario, é a voz mais perfida e inconstante da nossa lingua; tudo exprime, a hypocrita. O seu ah é vaidoso, adulador e iniquo pelo menos. Pela vaidade castigue-o algum resto de modestia que ainda se abrigue no seu coração lisbonense; a adulação competia-me castigal-a, mas perdôo-lh’a porque quero ainda suppôr que é um symptoma da doença das cidades, a meu vêr, a principal doença, que o obrigou a procurar a aldeia; da iniquidade, da injustiça, que faz á educação que se pode dar na provincia, ha de convencer-se dentro em pouco, quando eu lhe apresentar minha prima Christina, uma rapariga, que tem vivido aqui sempre e que protesta contra essa sua opinião; possue tudo quanto pode dar de bom a educação das cidades, e, o que mais vale, aquillo que lá é tão facil perder-se depressa, uma candura adoravel. É a irmã mais velha d’estas creanças ― accrescentou, pousando a mão na cabeça dos pequenos, que comiam e conversavam um com o outro.
― Mas v. ex.a...
― Perdão. Outra coisa. Já agora que entrei no caminho das admoestações, permitta-me mais uma, antes de perder o ar grave, que hei de por força