Victoria, que ficou desde então um pouco... um pouco... com pouca paciencia para olhar por as coisas domesticas. Isto creou-me novos deveres; havia aqui muitas creanças, estas duas, outras que estão lá dentro, e Christina, que era então creança tambem; occupei-me a ajudar minha tia.
― E tão admiravelmente, que a mais carinhosa mãe o não faria melhor.
― Dou-me bem com as creanças, dou. E a meu pae devo, em parte, o ter aprendido cedo esta sciencia. Porque é uma sciencia tambem.
― Então como procedeu o conselheiro para a ensinar?
― Eu lhe digo. Meu pae tem em certas coisas umas ideias muito singulares. Excellentes as acho eu. Oh! não imagina que boa e excellente alma é a de meu pae! Era eu uma creança, tinha onze annos, talvez, quando elle, um dia, vindo de Lisboa passar aqui algum tempo comnosco, me trouxe uma boneca, realmente bonita; uma maravilha de Nuremberg. Nos primeiros dias não me fartava de a vêr, de a beijar, até commigo a deitava. Oito dias depois succedia o que era de esperar, já nem d’ella sabia. Meu pae notou-o. ― Então, Lena ― aqui todos me chamam assim ― já não gostas da tua boneca? ― Disse-lhe eu: Gosto, mas... ― Bem sei, já fizeste tudo o que tinhas a fazer por ella, e como, pela sua parte ella nada faz por ti, enfastias-te, canças-te de conceber, a cada momento, brinquedos novos. Tens razão; onze annos já não é idade em que o interesse se sustente com tão pouco, é necessario mais. Ora dize-me, Lena, ― continuou elle ― se eu te mandasse vir uma boneca que movesse os braços e os olhos, que te sorrisse, que chorasse tambem, que te beijasse até... ― Pois ha bonecas assim? ― perguntei eu, admirada. ― E desejaval-a? ― Oh! se a houvesse!... ― Trago-t'a ámanhã. Não dormi aquella noite a pensar na boneca. No dia seguinte apresentou-me meu pae uma creança de um