As creanças, familiarisadas já com Henrique, em quem tinham adivinhado um humor jovial, o que é sempre para ellas um motivo de attracção, trepavam-lhe já aos joelhos e dirigiam-lhe perguntas sobre perguntas, difficultando-lhe as respostas.
—Havemos de jogar o rapa, não havemos?
—Havemos de jogar, havemos—respondeu Henrique.
—E o par où pernão?
—Tambem; tambem havemos de jogar o par où pernão.
—E?...
—Tudo, tudo; havemos de jogar tudo.
—Olhe: e sabe contar historias?
—Sei tambem contar historias.
—Então ha de contar-nos, que nós tambem lhe contamos a da Gata borralheira, a da Maria de pau e a da Menina com as très estrellinhas na testa.
—Ora, o sr. Henrique já as sabe—disse, fazendo-se sisuda, Marianna.
—Pois não sei, não, senhora; quem lhe disse que eu as sabia? hei de querer ouvir isso tudo.
—Ó meninos!—exclamou D. Victoria, que até alli estivera distrahida a discutir com Magdalena.—Então isso que é? Já para baixo. Ai, se lhes dá confiança, está arranjado, primo.
—Deixe-os estar, minha senhora, este contacto de alegrías é salutar; pegam-se.
—E não o diga a brincar—disse Magdalena—que tambem confio n’essas creanças para o curarem dos seus males.
—Então devéras emprehendeu curar-me?
—Com toda a certeza.
—N’esse caso havemos de discutir devagar esse ponto de pathologia.
—Não havemos, não, senhor. É mau medico o que soffre que o doente o interrogue sobre a molestia e o tratamento. O medico deve ser obedecido com fé, e cega.