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—­Perdôe-me, tia. Demorei-me no Mosteiro...

—­Ah! foste lá? E então gostaste d’aquella gente?

—­É uma familia para o coração. Passa-se o tempo alli tão depressa! A morgadinha, sobretudo, é adoravel!

—­Ai, aï; como elle nos vem! Olha lá no que te mettes, menino! A mina boa é, mas... filho, anda alli encanto, que ainda ninguem descobriu.

Henrique fitou os olhos na tia Dorothéa, que dissera isto com certa malicia.

—­Que quer dizer, tia?

—­Tu bem me percebes. Anda lá, anda. Se fizesses tu o milagre, se quebrasses o encanto, grande coisa seria; mas sempre te digo que não tomes a coisa a peito, que podes aggravar o teu mal.

Henrique levou o caso a rir, mas é certo que esteve um pouco maïs preoccupado e distrahido no resto da tarde.

 

VI


O leitor, se alguma vez realisou uma viagem na companhia de qualquer amigo, ha de ter observado que, durante os primeiros tempos que passam juntos n’uma terra para ambos desconhecida, tão alheios ás coisas como ás pessoas, no meio das quaes se vêem, nem por momentos se soffrem separados; um segue sempre o outro em todos os passos que dá, precisa d’elle para communicar-lhe as primeiras impressões recebidas, e pedir-lhe em troca as suas; á medida porém que, pouco a pouco, se vão familiarisando maïs com os logares e com as personagens d’aquelle mundo novo, afrouxa a constricção d’esses laços, e cada um principia a readquirir a independencia individual, que de motuproprio havia abdicado.