a lutar com a morte. Fique, e desejo que os seus esforços sejam mais proveitosos que os meus. Até logo.

Os três saíram da alcova.

Ângelo foi acompanhá-los à porta, afetando grande tranqüilidade, mas, logo que o pesado reposteiro de damasco se fechou sobre eles, explodiu-lhe do peito uma onda de soluços, e o mísero precipitou-se para junto do cadáver e caiu de joelhos, abraçando-lhe o pescoço e beijando-lhe as mãos.

— Ah! exclamou transportado pela paixão. Posso enfim estreitar-te agora nos meus braços! Já não és uma mulher, és simples matéria inerte! Já não és o fruto proibido! já não és o ente perigoso que nos leva a sonhar estranhas venturas!. . . lis pó! és nada! Posso agora ao teu cadáver dizer tudo, confessar-lhe o meu pobre amor, o muito que sofri, as longas horas de amargura que arrastei na minha negra solidão! Deus não me castigará por isso! Minhas palavras de amor ficarão contigo, adorável despejo, sepultadas debaixo da terra! Não! não estou pecando, porque não é à tua carne que eu me dirijo, é à tua alma, e essa não pertence ao mundo, essa não tem sexo!

E, alucinado, acrescentou, como se a morta pudesse ouvi-lo:

— Sim! sim! Eu te amo, eu te adoro, alma que te partiste para sempre! corpo que vais para sempre desaparecer