— Degradante filosofia é a vossa, escravos da luxúria! Desvirtuastes o amor, prostituístes a mulher! Amaldiçoais assim a melhor obra de Deus!
— Ou do demônio... corrigiu com uma gargalhada um dos comensais.
— Não! teimou Ângelo. O demônio inventou o ódio e não o amor, descobriu a inveja e não a ambição, descobriu o desespero e não a felicidade, descobriu a luxúria, que é o desespero da carne, e não o amor, que é o orvalho da alma!
— Ou estás muito ébrio já, disse aquele; ou és um poeta!
— Não! sou um homem que ama, e nada mais, repontou o amante de Alzira.
— Eis um sonhador!. . . interveio outro com uma nova gargalhada. Um amante das estrelas!... Mau lugar escolheste tu para os teus idílios sentimentais!. . .
— Segue o teu caminho, visionário! aconselhou outro. A tua loucura faz-nos pensar, e nós não queremos dar-nos a esse trabalho. . . Vai-te embora!
— Enxotam-me?! exclamou Ângelo.
E puxou um punhado de moedas de ouro, que atirou sobre a mesa, acrescentando:— Tenho o direito de cá estar! Pago os meus prazeres! E, se alguém há entre vós, que a isso se queira opor, fale, que imediatamente lhe taparei a boca.
Um dos convivas ergueu-se, encaminhou-se tranqüilo