O conde de Saint-Malô aprumou-se ainda mais sob os bofes bordados da sua camisa de rendas. Bouvier cerrara os lábios revoltado, e Gabriela assentara sobre o doutor o seu lorgnon de tartaruga.
— Negar talento ao pobre moço!. . . Com efeito!
Cobalt sorriu, levantou-se, e, indo colocar-se entre eles, respondeu com a sua fleuma habitual, afagando o ventre:
— Sim senhor, sim senhor; não foi o talento, nem foi a ilustração do seminarista, o que impressionou Paris inteiro. Há por aqui milhares de teólogos, muito mais fortes na matéria e mais oradores do que Ângelo, que não conseguem abalar um só dos seus ouvintes.
— Então o que é que foi?... interrogou a formosa Gabriela, sem abaixar o lorgnon.
— Uma cousa muito simples, minha querida senhora, uma cousa extremamente simples. . .
Todos se aproximaram dele, vencidos pela curiosidade.
— Que foi — Que foi?— Que foi então?. . .
— A sinceridade, respondeu o médico.
— A sinceridade?. . . exclamaram em coro.
— Sim, meus caros amigos. A verdadeira convicção nas suas crenças, o verdadeiro sentimento do que ele afirmou no púlpito. Foi só daí que lhe veio aquela poderosa e dominadora eloqüência. Ângelo falou mais com o coração do