peito, dilacera as tuas carnes com as unhas até sangrares de todo o veneno da tua mocidade! Esmaga, à força de penitência, toda a animalidade que em ti exista! aperta os teus sentidos dentro do voto de ferro da tua castidade, até lhes espremeres toda a seiva vital! Fecha-te, enfim, dentro do teu voto de castidade, como se te fechasse dentro de um túmulo!

Ângelo soltou um grito e caiu de joelhos, balbuciando uma prece por entre os seus soluços.

Ozéas acalmou-se e estendeu o braços abençoando-lhe a cabeça com a mão aberta.

— Sim, reza! disse; reza, meu filho, ao pai misericordioso o maior tempo que puderes!

E depois acrescentou, inspirado por uma súbita idéia:

— O velho cura de Monteli acaba de sucumbir à peste que se manifestou nessa pobre aldeia. Vou ter com o arcebispo e peço-lhe que te nomeie para lá. Em Monteli não terás tentações!

E saiu vivamente, enquanto Ângelo, ajoelhado ao meio da cela, de braços e olhos erguidos para o céu, em vão procurava alar-se como dantes no vôo dos seus êxtases.

Era inútil. Seu pensamento caía por terra e ia arrastando-se até à esplêndida catedral, à procura de um bem, em busca de uma ventura, que ele não sabia qual era, mas tão doce e tão irresistível que lhe deixava alma e coração vagamente enleados de desejo.