principiava a torturá-lo com uma dura e secreta agonia de inveja.
— São felizes! são felizes! soluçou de punhos cerrados e com o coração oprimido. E por que hão de eles rir e eu chorar! Qual é o meu crime?! Por que todos nesta vida tem uma companheira e eu não a posso ter?! Por que hei de ser só, eternamente só, quando a natureza deu um par a cada uma das suas criaturas?!. . .
Mas caiu logo em si, e derramando pela cela um olhar de quem desperta de traiçoeiro sonho, deu com a imagem da Virgem, que, de dentro do seu nicho de pedra, parecia lançar-lhe um triste sorriso de ressentimento.
— Não! bradou ele, atirando-se de joelhos e arrastando-se até os pés da Santa. Não estou só! nunca estarei só! Sou um padre e a minha esposa sois vós, Senhora amorosíssima, lírio celeste, perfeição dos céus! Perdoai-me se por um instante de delírio me esqueci do nosso amor!
E correndo à janela, bramiu, ameaçando lá fora, com a mão fechada:
— Oh! Bem te compreendo, natureza pérfida e sedutora! bem compreendo os teus embustes! És pior ainda que a tua rival, a sociedade! Mas em vão te enfeitas com as tuas galas e com os teus sorrisos de amor! Não me seduzirás, pântano de lama coberto de flores! Não me corromperás, porque tenho na alma bastante energia para governar os meus sentidos, e tenho o meu coração