— Mas, D. Amélia! Depois da resposta de seu pai, se eu me apresentasse em sua casa, tornar-me-ia importuno. Cuida que não sofri, passando tantos dias sem vê-la? Ingrata! Quantas vezes, não podendo resistir, fui até à porta de sua casa, e passei, impelido pelo receio de indispô-la contra mim? Se ela me amasse, pensava eu, teria aceitado logo: não o fez; quer refletir; devo deixá-la tranqüila e respeitar a sua resolução. Que vou eu lá fazer? Obrigá-la a me aborrecer.
Horácio mentia; ele se ausentara da casa do Sales Pereira, somente para vencer a resistência da moça por uma simulada indiferença.
O carro do negociante aproximou-se:
— Vai sem me deixar uma esperança?
— Não é aqui o lugar de pedi-la.
— Então amanhã?
— Se quiser!
No dia seguinte à noite o leão estava em casa do negociante. Amélia o recebera com um resto de ressentimento, que se desfez com os primeiros galanteios. Sucedeu o que era natural: depois de uma abstinência de tantos dias, esses corações tinham a sede de ternura, e beberam um no outro a largos sorvos.