olhos, escarnecendo do seu amor, como um desses caturras hediondos das lendas da Idade Média.
— Diga-me uma coisa: ontem depois que saímos, o senhor conversou com aquele moço que dançou comigo? O Leopoldo, não é?
Não recebendo resposta, Amélia ergueu a cabeça para interrogar o noivo com o olhar. O aspecto demudado de Horácio, o sorriso pungente que amarrotava seu bigode artístico, a vista ansiada que ele tinha fixa no monstro, lhe revelaram subitamente o que sucedera.
Um grito de aflição escapou-se do peito da moça, que afastou violentamente de si o bastidor, causa do acidente, e colheu os largos volantes da saia, ocultando o que ela por tanto tempo defendera contra a curiosidade sôfrega do moço. Por alguns instantes os noivos permaneceram mudos e confusos, sentindo-se repelidos um pelo outro, e contudo não ousando afastar-se. É um suplício cruel esse que inflige a presença de um ente que faz corar de vergonha.
Afinal Horácio levantou-se e deu alguns passos a esmo. Amélia aproveitou-se desse movimento